Inverno
Às vezes é como me espetarem uma faca nas costas. Parece que não dá mais. Simplesmente não se consegue avançar, e ficamos ali parados, como rochas onde as ondas fortes batem nas noites escuras, frias e agressivas de inverno.
Tenho as quarto estações do ano dentro de mim, mas agora sinto-me no inverno. Frio, chuvoso, confuso, ventoso. Não sei. Não sei sequer se isso faz sentido.
Mas é a minha estação preferida.
Deprimida.
Sentar-me no cadeirão junto da janela e ver a chuva cair, ver as nuvens andarem com uma velocidade fora do normal, ver o sol a tentar penetrá-las como se quisesse muito aparecer, como se a sua vida dependesse daquele raio. Sentar-me no cadeirão, com chocolate quente na mão.
Só de pensar que és tu que me aqueces nessas noites de tempestade. Aquecemos-nos mutuamente na tua cama, que tem o colchão mole, os lençóis de flanela.
Olho pela janela do teu quarto e vejo campo. Olho para ti e vejo-me a mim.
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